sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Quero

Quero que todos os dias do ano
Todos os dias da vida
De meia e meia hora
De cinco em cinco minutos
Me digas: Eu te Amo.
Ouvindo eu te dizer: Eu te Amo
Creio, no momento, que sou amada.
No momento anterior,
E no seguinte,
Como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
Que me amas
Que me amas
Que me amas
Do contrário evapora-se a armação
Pois, ao dizer! Eu te amo,
Desmentes,
Apagas,
Teu amor por mim.
Exijo de te o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
Isto sempre, isto cada vez mais
Quero ser amado por e em tua palavra
Nem sei de outra maneira a não ser esta
De recolher o dom amoroso,
A perfeita maneira de saber-se amando:
Amor na raiz da palavra
E na sua emissão,
Amor
Saltando da língua nacional
Amor
Feito som
Vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te Amo.
Inexoravelmente sei
Que deixaste de amar-me,
Que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo amo amo amo amo,
Verdade
Fulminante e acabes de desentranhar,
Eu me precipito no caos,
Essa coleção de objetos de não-amor.


Carlos Drummond de Andrade